O dia em que uma diretora de escola ensinou o que era Accountability

Eram muitas as caixas com brinquedos espalhadas pelo chão. Além delas, preenchiam o ambiente várias estantes altas, repletas de livros. Em sua maioria, eram títulos sobre educação. Ao chegar naquela Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) em Americanópolis, na zona sul da capital paulista, fui encaminhado para a sala da diretora. Estava ali para fazer uma palestra para os professores. O ano era 1999 e eu fiquei tão impressionado com o que vi que decidi elogiar o trabalho da prefeitura ao investir na aquisição de materiais de apoio para aquela unidade de ensino. Foi quando ela me olhou nos olhos e perguntou: “Você acha que foi a prefeitura que comprou tudo isso?”.

Aquele acervo, ela me contou em seguida, havia sido adquirido pelos funcionários do colégio. E isso por meio de um acordo interno: a cada três meses, todos os colaboradores, da diretora à auxiliar de limpeza, doavam 10% do salário para a aquisição de livros em sebos e de brinquedos nas lojas de comércio popular da 25 de Março, em São Paulo.

Depois de explicar a iniciativa, ela completou: “Fazemos isso porque somos apaixonados pelo nosso trabalho e por essas crianças”.

Saí mexido daquele lugar, pensando nas palavras dela. O que faz uma pessoa sair do seu quadrado para ajudar o outro? Aquilo era, sem dúvida, uma quebra de paradigma. Comentei sobre o fato com alguns amigos e com o meu mentor, Bemvenutti, e ele me disse que existia até uma palavra para traduzir aquela atitude em inglês: Accountability. Por fim, me orientou a estudar o assunto.

Comprei todos os livros que pude, importados, não havia literatura sobre isso no Brasil. Fui mergulhando no conceito, que passei a incluir nas minhas palestras. Quando me dei conta, havia direcionado a minha trajetória ao entendimento, debate e divulgação do significado da Accountability no Brasil e no mundo.

Mais de 20 anos depois, consolidei uma abordagem única, relacionando a ideia a uma macro virtude moral. Aquela diretora de escola em Americanópolis foi apenas a primeira pessoa incrível a cruzar o meu caminho e me ensinar lições valiosas sobre o tema.

Em essência, a Accountability é a capacidade de pegar a responsabilidade para si e gerar respostas com resultados. É assim que agem os indivíduos accountables. Trata-se de uma virtude que muitas pessoas vivenciam de maneira intuitiva, sem se dar conta de que isso tem um nome. Simplesmente agem de acordo com o que sua consciência manda. Fazem o que é certo, respondem de forma correta a cada situação, adaptam-se aos problemas do cotidiano. Espero que você seja uma pessoa assim: poderosa e transformadora. Se ainda não for, saiba que pode ser. Basta estar consciente e olhar para si mesmo com vontade de transformar aquilo que não está bom.

Longe do lugar de vítima

Outro ponto fundamental: a Accountability se propõe a combater o instinto natural de fuga/defesa que nos leva a um lugar de vítima, fugindo da responsabilidade e culpando os outros e as circunstâncias por tudo o que nos acontece. Apontar culpados, aliás, é a essência da chamada “Desculpability”, termo que criei e transformei num livro de mesmo nome.

 E você, já tinha ouvido falar do assunto? Se considera um indivíduo accountable? Que tal começar a pensar sobre isso? Seja como for, para ajudar você a refletir, vou passar a escrever regularmente sobre o tema aqui no LinkedIn.

E tem mais: até o final de 2022 chegará às livrarias a versão atualizada do meu primeiro livro: Accountability – A Evolução da Responsabilidade Pessoal, que apresentará um panorama completo do que há de mais importante neste debate. Mal posso esperar para anunciar aqui a novidade quando tudo estiver pronto.

Vamos em frente. Fique à vontade para compartilhar comigo aqui mesmo, nos comentários, ou nas minhas redes sociais, o que achou deste artigo e como você foi apresentado ao tema.

Até a próximo conteúdo!

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JOÃO CORDEIRO

Um evangelista da Accountability, com a profunda convicção de que é dever de cada um tomar para si a responsabilidade pelo resultado do seu trabalho e como somos o resultado de nossas próprias decisões, podemos sempre melhorar.

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